O topónimo Escariz é um derivado germânico de "Aschari", cuja tradução é "Ascário", que significa literalmente "guerreiro armado com uma lança de haste de madeira de freixo". O geónimo "Ascário" surge também através do topónimo latino medieval "Villa Ascariquici" que significa a "Quinta de Ascário".
Escariz é uma freguesia muito antiga que pertenceu no séc. VI à diocese de Coimbra que se estendia até ao rio Douro. Porém, em plena época da Reconquista aos mouros, e com a disputa entre o Bispo de Coimbra, D. Gonçalo, e o Bispo do Porto, D. Hugo que pretendia alargar as fronteiras da sua Diocese para sul até ao rio Antuã, pertenceu ora a uma, ora a outra Diocese.
Em 15.08.1115 o Papa Pascoal II, pela Bula “Egregias quondam”, reconheceu os limites da Diocese do Porto com o rio Antuã, mas pouco depois, em 24.02.1117, anulou esta decisão.
Em 02.03.1120 o então Papa Calisto II voltou a revalidar as pretensões de D. Hugo pela Bula “Officii mei” na qual há referência ao monte Nabal, junto à Venda da Serra, Escariz, onde se encontra a nascente meridional do rio Antuã que, seguindo por Nabais, Currais e Azagães – Carregosa – se junta nesta freguesia à nascente norte que parte do lugar das Alagoas pela Seixeira, Fajões, continuando, como rio já unificado, pela Ínsua, Pedra Má (Pindelo), Covo, Estarreja até à ria de Aveiro.
Em 1121 o mesmo Papa voltou a confirmar as fronteiras da Diocese de Coimbra com o rio Douro (englobando a Freguesia de Escariz) e o assunto só ficou definitivamente solucionado com o Papa Inocêncio IV que em 12.09.1253, pela Bula “Provisionis Nostrae”, confirmou os limites da Diocese do Porto com o rio Antuã, ficando Escariz que já pertencia a Terras de Santa Maria, integrada definitivamente na Diocese do Porto.
"Terras de Santa Maria" é uma designação antiga, que remonta ao século XI e que compreendia os atuais concelhos de Albergaria-a-Velha, Arouca, Castelo de Paiva, Espinho, Estarreja, Gondomar, Murtosa, Oliveira de Azeméis, Ovar, São João da Madeira, Santa Maria da Feira, Sever do Vouga, Vale de Cambra e Vila Nova de Gaia. Uma região vasta com história.
Também nas inquirições de D. Afonso II feitas em 1220 na Terra de Santa Maria da Feira se fala “Frigisia de Ascariz” (Arquivo do Distrito de Aveiro – II, 72). Outras referências são encontradas nas inquirições de D. Afonso III feitas na Terra de Santa Maria da Feira em 1251 em que citam a “Parrochia de Ascariz” (Lusitánia Sacra – VII, 116). E nas inquirições de D. Dinis feitas no julgado de Fermedo em 1284 fala-se da freguesia de Ascariz. Ainda outras inquirições de D. Dinis na Terra de Feira de Santa Maria, a que pertencia o Julgado de Fermedo, há referências à freguesia de “Santandré d'Escariz” (Arquivo Histórico de Portugal – II, 1222). Em 1320 a “Eclesiam de Ascariz é colectada ad centum sexaginta libras” no grupo das freguesias da Terra de Santa Maria (Arquivo do Distrito de Aveiro – VI, 286).
Num documento medieval do séc. XIV a igreja de Santo André de Ascariz é colocada no Arcediagado da Terra de Santa Maria (Censual do Cabido da Sé do Porto – 1924, pág.544).
No foral concedido por D. Manuel I em 10.02.1514 à Vila da Feira vem mencionada a freguesia de Escariz. Também o recenseamento de D. João III em 1527 coloca na região da “Vila da Feyra a Aldea d'Escariz e sua freguesia” (Arquivo Histórico Português – VI, 276).
Em 1623, quando surgiram as comarcas eclesiásticas, Escariz, continuava ligada à comarca da Feira, porque fazia parte do antigo concelho de Fermedo. Em 1838 figurava na comarca de Estarreja e no concelho de Oliveira de Azeméis, embora houvesse lugares da freguesia a pertencerem ao concelho de Fermedo. Em 1852 encontrava-se na comarca de Arouca e concelho de Fermedo. Com a extinção deste concelho em 24.10.1855 Escariz passou definitivamente para o concelho de Arouca do qual dista 20Kms. Arouca pertencia à Diocese de Lamego e só mais tarde passou a ser comarca eclesiástica da Diocese do Porto (Diocese do Governo, 05.19.1882).
A Freguesia é rica em património arqueológico.
Aqui encontram-se vestígios de que há milhares de anos aqui viveram outros povos como demonstram os estudos feitos por arqueólogos e professores universitários em alguns monumentos megalíticos que fazem parte de um conjunto de quarente e um já inventariados e que se estendem ao longo da antiga estrada romana Porto – Viseu, desde o Lugar do Calvário até ao Lugar da Venda da Serra.
O "Conjunto Megalítico de Escariz" define um conjunto com mais de dez núcleos de sepulturas e de tradição megalíticas, situadas entre o Neolítico e a Idade do Bronze, perfazendo um total de mais de meia centena de sepulturas coletivas.
O Dólmen ou Mamoa da Aliviada, localizava-se na berma da EN519, enquadrado por bosque e vegetação rasteira. A principal característica deste Dólmen residiria na superfície de sete dos nove esteios que o faziam parte da câmara, por apresentarem gravuras e pinturas com motivos predominantemente ondulados e geométricos. Trata-se de um "tumulus" de grandes dimensões, com um diâmetro de 18,5 metros e uma altura de dois metros, revestido por uma potente carapaça em pedras de granito de pequena dimensão.
O núcleo das Alagoas são montículos artificiais que cobrem câmaras dolménicas, que tinham como função esconder e proteger as sepulturas, conferindo-lhe, ao mesmo tempo, maior monumentalidade. São estruturas de tamanho significativo, que tapavam completamente a câmara e o corredor, quando este existia.
O núcleo da Venda da Serra possui um conjunto de quatro sepulturas, ladeando caminhos que poderão ter origem em períodos pré-romanos.
Em Escariz passavam duas estradas romanas. Considerando que os Romanos ocuparam esta zona entre os anos 150 A.C. e 100 A.C., estamos a falar de estruturas com mais de 2000 anos.
- Itinerário "Cale - Vissaim" (Porto - Viseu): Esta estrada entrava na Serra da Freita por Manhouce, passava em Albergaria das Cabras, descia por Quintela, Chão de Ave e, daqui seguia o percurso da EN 224-1, entrando em Escariz pela Venda da Serra, no Lugar de Nabais, passando pelos montes de Gestosa (em documento datado de 1085, "Carta de hereditate quam habet monasterium In Minianos et in Manzores et in genestosa inter manzores et fagiones" há referências a esta "uilla genestosa que iacet inter manzores et fajiones et portela", ou seja, entre os atuais lugares de Mansores, Fajões e Portela de Romariz). Passava depois próxima do Castelo Roqueiro, situado no Alto de Coruto, associado ao controlo desta Via, rumando em direção a Cabeçais. O Castelo Roqueiro, era local onde esta se cruzava com uma Via no sentido Este - Oeste, proveniente do Castro de Arouca rumo ao litoral, passando junto do Castro de Romariz, para ir cruzar com o Itinerário XVI junto da mansio no Lugar de Arrifana, seguindo depois por Santa Maria da Feira até ao mar (Itinerário Feira-Arouca).
- Itinerário XVI "Bracara Augusta - Olisipo" (Braga - Lisboa): Este itinerário era uma das mais antigas e importantes vias romanas da Península Ibérica e ligava Braga a Lisboa. Em Arrifana, havia um desvio, passava por Milheirós de Poiares, atravessando o rio Ul, em Romariz, continuava até entrar entrar em Escariz, atravessando o rio Inha, no Lugar do Londral, seguindo pela Igreja até ao Cruzeiro.
Partindo do largo do Cruzeiro, o troço cruza a EM504 e segue pelo Lugar do Viso até à EM519.
O Castelo Roqueiro (sécs. IX-XII) situa-se junto ao Parque de Negócios e ao Agrupamento de Escolas de Escariz, num cabeço granítico da freguesia de Escariz, a cota de 511 metros.
O Monte de Coruto viu a memória da sua ancestralidade registada originalmente por Pinho Leal em 1874: “a gente destes sítios conta muitas maravilhas deste cabeço. Diz que houve nele um castelo de mouros e que aqui existem grandes riquezas encantadas. É tradição que em tempos remotos se chamava Crasto Alvarinho”. Não obstante, o dicionarista adverte: “examinei muitas vezes o Cruto com todo o vagar e não vejo ali o mínimo vestígio de qualquer casta de edifício” (LEAL, 1874).
Com efeito, as evidências arqueológicas da ocupação antiga do Monte Coruto, naturalmente pouco percetíveis a Pinho Leal, resumem-se apenas, para além do espólio cerâmico e de um ou outro silhar aparelhado visíveis à superfície do solo, a diversos cortes e entalhes nos penedos, elementos que podem observar-se quer no topo do monte, área com escassa potência de aterro e uma superfície que não ultrapassará os 50 metros quadrados, quer na encosta. Naturalmente, tais obras estarão ligadas à implantação de uma cerca defensiva, cujo perímetro não é possível determinar sem trabalhos arqueológicos mais extensivos.
Não obstante, nos tempos em que o autor do Portugal Antigo e Moderno demandou aquele morro pedregoso estes vestígios seriam por certo mais notórios, uma vez que a intensa exploração de pedra efetuada no local desde meados do século XX provocou expressiva destruição no sítio arqueológico, visível nas diversas frentes de pedreira ainda expostas.
Os materiais cerâmicos de superfície, que abundantemente se espalham pelas encostas, incluem fragmentos de panelas com cordões lisos, digitados e golpeados, asas de jarro decoradas com puncionamentos, fundos em disco (SILVA, 2011: 15) e outros exemplares que parecem apontar para cronologias afins das dos castelos de Valinhas e Carvalhais.
Em pedreiras próximas registou-se o aparecimento de dois tesouros monetários. O primeiro, ocorrido entre 1965 e 1968, seria constituído por um conjunto de moedas bastante numeroso, aparentemente mais de um milhar, encontrado num recipiente cerâmico e que incluiria numismas do reinado de D. Dinis, segundo classificação de um estudioso local; um segundo tesouro terá sido localizado em 1977, sem que se conheça o seu enquadramento ou características.
Como é comum em achados similares, as moedas foram, na ocasião, dispersas por particulares, não sendo por isso possível precisar o contexto ou a cronologia dos conjuntos numismáticos (VILAS BOAS et al. 1986).
A importância geoestratégica deste ponto defensivo decorre certamente do seu amplo domínio visual do território envolvente e, muito especialmente, do controle de um troço da via, de ascendência romana, que ligava a cidade de Viseu, atravessando o maciço da Gralheira, ao litoral (SILVA, 2004: 278, 352). Em posição algo simétrica com o castelo de Carvalhais, o Monte de Coruto poderá igualmente ter representado um papel estratégico no quadro político-administrativo regional, uma vez que a sua implantação assinalaria eventualmente a linha divisória, ou pelo menos a confluência de territórios da civitas de Anegia, a Nascente, com a civitas de Santa Maria e depois, já no século XI, da terra de Santa Maria com a de Arouca, entretanto desmembrada de Anegia.
Neste quadro, não nos é possível determinar o âmbito cronológico da sua ocupação, parecendo plausível que com a pacificação decorrente do afastamento da fronteira para a linha do Mondego (1064) e a fragmentação dos antigos territórios das civitates em terras, o seu significado militar tenha decrescido, podendo talvez ter sido abandonado poucas décadas depois ou, em contrapartida, ter ainda sobrevivido mais algum tempo em função desse seu posicionamento de charneira entre territórios.
Fonte: Fortificações e Território na Península Ibérica e no Magreb (Séculos VI a XVI)
A Ordem de São Bento é a mais antiga ordem de monges no Ocidente. O Convento de Escariz era feminino, composto por monjas em clausura, que seguiam a regra por São Bento, cujo princípio fundamental é "Ora et labora", que quer dizer "reza e trabalha", ao qual se acrescentou "et legere", ou seja "e leia". Ao contrário de outras ordens religiosas, com o beneditinos, cada Mosteiro ou Convento era independente.
Era composto pela Igreja e pela Casa da Tulha, casa servia de residência às freiras, onde desenvolviam as atividades não religiosas. Até ao ano de 1400 preservou esta ordem Beneditina a sua regular observância, no entanto depois, descaindo do seu primitivo fervor, por vários motivos, principalmente pelos comendatários perpétuos que os reis nomeavam para administradores dos Conventos e eram confirmados pelos pontífices, chegou a Ordem a tal estado que, no ano de 1500, todos os Conventos de São Bento estavam em poder dos comendatários, que ordinariamente eram Clérigos seculares e não cuidavam, apenas desfrutando das rendas dos Conventos, o que causou muitos estragos às comunidades.
Nuno Camelo foi o último comendatário de Santo André de Escariz e, após a sua morte, o convento foi encerrado e as freiras existentes foram para o Convento de Avé-Maria, no Porto.
A igreja de St.º André de Escariz deve ter sido reedificada em inícios do século XVIII, com janelas de seteira, base de púlpito sobre uma mísula decorada com folha de acanto e enrolamento, com acesso através de uma escada pétrea lateral. Da mesma época serão os arcos em cantaria lavrada, para inserção de retábulos laterais, com duas pilastras de fuste marcado por uma almofada corrida, arco de volta perfeita com flor no fecho e duas almofadas laterais.
Em 1758 a igreja tinha cinco retábulos, mas no inquérito só nomeou quatro, a saber, “(...) o do sacramento e o da Senhora do Rozario, e o da Senhora do Carmo e o Santo Nome de Jezus”. Apesar de indicar que não tinha nenhuma irmandade, a Confraria do Santíssimo Sacramento tinha sido instituída a 6 de agosto de 1658, para garantir o sacramento aos fieis de Escariz e da sua freguesia anexa, Mansores.
Em 1769 o visitador acha-a “(...) suficiente, e o ornato de 5 Altares, q tem, com Capela mor, sachristia, e campanario com 2 sinos”. A torre sineira foi construída em 1799, conforme a inscrição que ostenta. Da mesma altura deve ser a reedificação da fachada, de portal de verga curva, encimado por nicho (hoje com função dupla de nicho e vão de iluminação), numa composição bastante depurada que nos remete para finais do século XVIII ou inícios do século XIX. O arco cruzeiro também foi alterado, é composto por duas pilastras, sobre pedestal bastante elevado, que sustentam o arco em volta perfeita, emoldurado e com uma folha, possivelmente de acanto, no fecho. As pilastras parecem não corresponder ao mesmo tempo do arco, o arco lembra estruturas oitocentistas.
De todas as estruturas retabulares, destaca-se o retábulo lateral do lado do Evangelho, dedicado à Crucifixão de Cristo, rococó, onde foram colocadas por trás da cruz de Cristo as figuras que em tempos fizeram parte de um conjunto escultórico representativo da deposição de Cristo no túmulo. O Cristo morto encontra-se no retábulo fronteiro a este.
O retábulo-mor resulta do reaproveitamento de algumas peças de talha mais antigas, mas é obra oitocentista, os colaterais são ecléticos e o lateral do lado da Epistola imita o retábulo rococó. A 17 de outubro de 1864, o visitador diz que “a egreja apesar de ser muito antiga está sufficiente (...)”. A 18 de abril de 1996 o pároco de Escariz, P. Álvaro Jesus Fernandes, solicita autorização à Diocese do Porto para proceder a obras de reparação da igreja e informa que na década de 1950 “(...) foram levadas a cabo obras de reparação, mas sem qualquer projeto e sem o conhecimento da Comissão de Arte Sacra da Diocese, resultando daí acrescentos não condizentes com o estilo da Igreja (...)”. Os acrescentos de que fala são visíveis na fotografia de c. 1954, entre a sacristia e a torre sineira.
Como por esta altura a igreja estava bastante degrada ao nível da cobertura e paredes, foi submetido, pelo referido pároco, um projeto da autoria dos arquitetos Sola Campos e Filipe Manuel Leite Sousa, com colaboração do Eng. Alberto Cardoso Oliveira, para demolir as dependências anexas acrescentadas em inícios da década de 1950, encurtar a sacristia, remover todo o azulejo que revestia a fachada principal, tratar a cobertura e as paredes.
Fonte: Dinâmica Artística na Antiga Comarca Eclesiástica da Feira
© 2025 Junta de Freguesia de Escariz. Todos os direitos reservados | Termos e Condições